“Tiãozinho
era muleke zica”, assim diziam todos quando se referiam a ele falando de
futebol. Velocidade e drible eram suas principais características. Franzino,
mudava de direção para escapar da marcação com os seus dribles com a mesma
facilidade com que se descasca uma banana. Artilheiro por onde passava sempre
deixava a sua marca, mas a pergunta que todos se faziam era: “porque este
muleke não virou profissional?”.
Conta
a historia que um dia um “olheiro” foi até um dos campeonatos de várzea que ele
disputava e ficou maravilhado com o seu futebol. Ofereceu a ele a oportunidade
de treinar em um grande clube, e ele não pensou duas vezes antes de aceitar.
Chegando lá, um conhecido técnico colocou ele para treinar no “rachão” entre
titulares e reservas. Seu talento logo apareceu, todos ficaram encantados, mas
o técnico de cara percebeu algo errado.... Tiãozinho era muito individualista,
raramente passava a bola e isso quase sempre atrapalhava as jogadas. O técnico
tentou aos prantos fazer com que ele passasse a bola, mas ele não ouvia. Então
em uma conversa o técnico deixou claro, ou ele passava a bola ou estaria fora.
Na primeira bola que recebeu ele partiu para cima da marcação, passou por dois
marcadores e ao ver um colega melhor posicionado...não teve dúvidas...chutou a
gol e a bola passou muito longe....subiu até as arquibancadas. Este foi seu
ultimo lance no treino. Nunca mais houve outra oportunidade para ele.
Quando
o olheiro questionou ao técnico o motivo, recebeu como resposta uma das mais
conhecidas frases do futebol: “O esporte é coletivo, o individual aparece
quando o coletivo vai bem”.
Se
analisarmos com calma, a sociedade hoje não é muito diferente do Tiãozinho. A
cada dia que passa pensamos mais e mais em nós mesmos em detrimento dos outros,
esquecendo que vivemos em uma sociedade e consequentemente em uma coletividade.
As
pessoas vão as academias com enorme fones de ouvidos, como quem diz: “Não fale
comigo, meu treino é mais importante do que te conhecer”. Estacionamos em
vagas exclusivas, pois a nossa pressa é mais importante do que o conforto dos
que realmente precisam de algum tipo de ajuda. “Furamos” filas, pois o nosso
tempo é muito mais importante do que o das pessoas que estão aguardando para
serem igualmente atendidas. Burlamos processos porque é mais importante o
resultado individual do que a correta execução da tarefa. Chegamos ao cumulo de
considerarmos aceitável casais que vivem em casas separadas, e até achamos isso
moderno. Gentileza e educação estão se tornando artigos de luxo, pois EU estou
em primeiro lugar.
Imaginem
que legal seria se o que nos diferenciasse fossem as qualidades que nos são
inerentes, e não somente por fazermos o básico para um convívio em sociedade.
Assim como o passe é básico no futebol e o drible o diferencial.
Precisamos
voltar a entender que vivemos em coletividade e termos a convicção de que o
todo sempre será mais importante do que a parte, ou seja, a contribuição que
damos para a sociedade é mais importante do que o bem que fazemos a nós mesmos.
Assim nos ensinaram alguns dos grandes lideres que fizeram a diferença para a
humanidade como: Ghandi, Madre Teresa de Calcutá entre tantos outros.